domingo, 8 de junho de 2008

ESPERANÇA EM UM TELEFONEMA



Nesta última matéria da série sobre os transplantes no Estado, iniciada no domingo, a Folha mostra como a esperança é importante para o doente conseguir suportar a dor de se manter na fila de espera de um órgão e superar a angústia de aguardar por um único telefonema. Confirmando o essencial papel da fé em todo este processo, religiões se mostram favoráveis a doação de órgãos, confortando e apoiando os pacientes que vão de encontro aos desanimadores números relacionados aos transplantes em Pernambuco. O telefone toca. “Alô!”, diz uma voz ansiosa do outro lado da linha. Identificação e razão do contato são repassadas pela reportagem da Folha de Pernambuco. Repentinamente, o silêncio. Segundos depois, a confissão. “Perdão, amigo. As únicas pessoas que possuem esse meu número exclusivo de celular são os funcionários da Central de Transplantes (CT-PE). Pensei que tinham encontrado um doador. Meu coração está ‘pulando’ pela boca”, revela o entrevistado. Comparado ao tempo de espera de outros pacientes, o trabalhador autônomo Alexandre Gonzaga da Silva, de 46 anos, é quase um novato na fila única que aguarda um coração: entrou na lista em 29 de novembro do ano passado. Talvez isso explique a agitação e o otimismo. “Pensar na morte não adianta. Eu quero é viver”, brada.
O comportamento do trabalhador autônomo diverge do ‘complexo do vira-lata’. Na última sexta-feira, durante o 1ø Simpósio de Transplante de Fígado do Nordeste, realizado no Recife, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, utilizou a expressão em associação ao comportamento dos brasileiros, que, segundo o chefe do ministério, vive sempre na base do “está bom, mas poderia ser melhor”. A afirmação foi uma referência à incredulidade do povo em relação aos “avanços na saúde pública”. É bem verdade que Alexandre almeja se livrar da ‘vida de cão’. Mas, enquanto o corpo não atende aos anseios, a mente é a responsável por trazer alegria a um dia-a-dia de limitações e penúrias e a um passado com o registro de dois infartos, uma angiopatia, um aneurisma, uma cirurgia e três processos de cateterismo. “Não fico reclamando. Prefiro agir e conservar energia positiva e paz de espírito”, declara.
A ação referida por Alexandre se dá por meio de realização de palestras em escolas e organização de passeatas em prol da sensibilização sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. “Mesmo quando eu conseguir meu coração, continuarei promovendo as atividades, no intuito de salvar outras vidas”, garante. No livro Psicologia Hospitalar, a autora Kátia Cristine cita que, quer o paciente aceite ou não, ele terá que se prontificar a reestruturar a vida diante do desafio da doença. A aceitação do problema e o enfrentamento, continua a psicóloga, são vitais para a permissão de ser ajudado.
Outra forma de evitar a insatisfação caracterizada pelo ‘complexo do vira-lata’ é a prática de terapias alternativas. O empresário Sérgio Almeida, 47 anos, freqüenta sessões periódicas de Yoga - atividade ancestral, de origem indiana, que visa objetivos diversos, tais como auto-conhecimento, equilíbrio entre corpo e mente e saúde. “Decidi ingressar na filosofia oriental quando estava na fila de espera por um rim. Desde então, minha vida ganhou novo sentido e eu consigo superar as barreiras e o estresse da condição imposta pelas debilidades do organismo”, pondera.










Matéria Veiculada na Folha de Pernambuco (20/05/2008)





RODOLFO BOURBON

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